sexta-feira, 4 de agosto de 2017

A Grande Greve

Palestra sobre o centenário da primeira greve geral no Brasil


Por: J.Nito

     No ultimo dia 20 de julho o radialista, político e ativista social ítalo-brasileiro, José Luiz Del Roio, esteve na quarta edição da série “Encontros na Escola de Contas”. Como de costume a entrevista foi conduzida pelo sociólogo Jessé Souza e pelo jornalista Florestan Fernandes Jr., Del Roio falou sobre seu livro A Greve de 1917: os trabalhadores entram em cena.  A obra apresenta um panorama do movimento grevista que marcou a história da luta operária no Brasil no começo do século 20.


     No inicio da palestra Florestan Fernandes fez uma breve síntese do movimento grevista: “Promovida por organizações operarias de inspiração anarquista com o apoio da imprensa libertaria a mobilização foi uma das abrangentes longas da historia brasileira”.

O inicio da industrialização e a grande greve


     Del Roio falou sobre o inicio da industrialização no Brasil. Segundo ele, o negro era marginalizado por sua mão-de-obra inferior, o que levou as autoridades a promover, através do incentivo à entrada de imigrantes europeus, uma política de Estado de branqueamento. "Nossa industrialização nasce com o capital do escravismo e com a gestão de patrões escravistas. Logo, toda a relação será escravocrata", explica.
     
     O ativista social contou que o crescimento da classe operária se deu com a expansão da cidade de São Paulo, que até a introdução da cultura cafeeira, no início do século 19, não passava de um pequeno vilarejo. "Aquele que trabalha no café, que é um assalariado agrícola, vai se transformar em operário". Com a chegada de Imigrantes europeus, que desembarcavam no porto de Santos e acabavam se fixando na cidade de São Paulo, acabou gerando demandas por serviços e produtos alimentícios e têxteis, dando início a um processo de industrialização, que atraiu ainda mais mão de obra para a cidade. Com isso, houve um  processo de organização dos trabalhadores: as ligas operárias.

     A liga operaria começou a protestar por melhores condições de trabalho: “ 400 operárias foram falar com o patrão e fizeram uma lista de reivindicações trabalhistas. Essas 400 mulheres chocaram a fábrica, e ela parou. Todos pararam (o que levou o patrão a fechá-la)." O movimento dos operários organizaram uma marcha e passaram de casa em casa pedindo solidariedade política”. Todos os operários entraram em greve.Ao todo, foram 45 dias de greve. "Tudo foi fechado. Eles atacaram os moinhos, saquearam os trens e ocuparam os bondes". A pressão sobre os patrões acabou vitoriosa, resultando na concessão de vários direitos aos trabalhadores.

A greve Geral de 2017

   
     José Luiz Del Roio respondeu a perguntas da plateia. Neste momento pergunto ao ativista político: “Por que os chamamentos da greve geral dos últimos meses no Brasil não conseguem uma mobilização de fato da classe trabalhadora? E por que é tão difícil a unidade proletária no Brasil?”. O sociólogo Jessé Souza acrescente dizendo que a falta de unidade proletária não é um problema só do Brasil.

     Resposta de Del Roio: “Nos pagamos sempre a questão da organização do povo brasileiro [...]grande parte da população se julga totalmente estranha a esse estado e em parte a este país. São tão descriminados que dizem: -não é o meu país- ou -se é o meu país, não é o mesmo país de vocês. nos não conseguimos superar essa dificuldade imensa de linguagem,isso dificulta muito... Posso dizer também que as fabricas hoje tem pouco peso na mobilização geral em relação ao passado”.

Reforma trabalhista


     Florestan pergunta a Del Roio: “com a reforma trabalhista que tipo de sindicalismo nos vamos ter daqui pra frente”?

     O militante político responde dizendo que a primeira coisa que devemos saber é que “central sindical foi sempre proibido no Brasil.”. Nos só conseguimos a possibilidade de criar central sindical em 1982, enquanto centrais sindicais na Europa comemoravam centenário [...]aqui era proibido[...] O nosso sistema sindical nasce da CLT, nasce do Getulio, com limitações e controle de estado. Mas com uma classe dominante tão violenta isso serviu de proteção”.

     Em relação aos sindicatos atuais Del Roio diz que “os sindicatos estão sendo destruídos e voltando a situação de 1917. O próximo passo vai ser a liberdade de se fazer quantos sindicatos quiserem [...] e vai voltar o joguinho “viva o patrão”, esse é o projeto [...] é difícil você superar isso, sobretudo quando você tem um monopólio da informação na mão de patrões[...] Nos vamos para uma enorme crise de projeto nacional[...] os sindicatos tem que assumir parte do projeto nacional nas suas mãos. Nos temos que sair dessa desgraça que nos estamos”. Afirma.

Sobre José Luiz Del Roio


     Na época da ditadura militar no Brasil Del Roio fundou com Carlos Marighella a ANL (Ação Libertadora Nacional), grupo armado de resistência ao golpe de 1964. Como exilado político morou no Peru, Chile e Argélia. Foi responsável pela recuperação e organização do acervo sobre a História do movimento operário brasileiro, que hoje se encontra na UNESP, na cidade de São Paulo.  Foi senador na Itália e membro da Assembleia Parlamentar da Europa. Militante político desde a juventude foi dirigente do PCB em 1960.


Assista integra da palestra: A greve de 1917 – os trabalhadores entram em cena





Anexo 1


Confira a recente entrevista dada por Del Roio à TV Fepesp, na qual compara a situação de 100 anos atrás com o cenário atual. 




Anexo 2

Por: Conversa Afiada com Paulo Henrique Amorim

Haverá resistência aos ataques do governo Temer contra os trabalhadores? As manifestações e greves irão continuar? E o que esperar para as eleições de 2018?

Paulo Henrique Amorim entrevista Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto. 

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