A corrupção legalizada dos juros altos no Brasil é o primeiro tema de uma série de debates sobre a atual conjuntura econômica e política do Brasil
Por: J. Nito
O Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCM-SP) está realizando uma série de entrevistas com especialistas das áreas política e econômica, com o propósito de se debater a atual situação do Estado brasileiro. A série “Encontros” é mediada pelo jornalista Florestan Fernandes Júnior e o sociólogo Jessé Souza. O primeiro convidado da série foi o economista Ladislau Dowbor que falou sobre seu último livro, que trata da captura do Estado pelo sistema financeiro. O evento ocorreu no ultimo dia 9 de junho.
O Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCM-SP) está realizando uma série de entrevistas com especialistas das áreas política e econômica, com o propósito de se debater a atual situação do Estado brasileiro. A série “Encontros” é mediada pelo jornalista Florestan Fernandes Júnior e o sociólogo Jessé Souza. O primeiro convidado da série foi o economista Ladislau Dowbor que falou sobre seu último livro, que trata da captura do Estado pelo sistema financeiro. O evento ocorreu no ultimo dia 9 de junho.
Ladislau Dowbor primeiro entrevistado da serie "Encontros". |
Sobre a captura do Estado pelo sistema financeiro
Dowbor revela que o “volume de recursos extraídos da economia por meio dos
juros é escandaloso, e não encontra paralelo no mundo”, diz o economista, que
estima em R$ 1 trilhão por ano desta corrupção legalizada. Florestan Fernandes abre o debate perguntando ao
economista: - como é que se da à captura do Estado pelo capital financeiro?
Isso só ocorre no Brasil ou é um fenômeno internacional?”
“O fenômeno é global [...] ele mudou as relações de forças na sociedade [...] O sistema financeiro se globalizou [...] Na realidade o governo termina fazendo a política dos grupos financeiros [...] a gente fez uma pesquisa e hoje essa captura do poder pelo sistema financeiro esta começando a se tronar clara [...].
Em se tratando das altas taxas de juros cobradas no Brasil, o sociólogo Jesse Souza pergunta ao economista: (1)- qual é a razão de cada cidadão esta sendo penalizado na sua capacidade de compra por mecanismos financeiros que não aparecem como uma corrupção. Por que isso não é julgado como uma corrupção? Simplesmente porque isso é legalizado?
“Uma pessoa pega um empréstimo, ela tem que pagar sua divida, ela não deve pagar juros de agiotagem [...] Por que é legal o que estão fazendo? Porque nos tínhamos o artigo 192 da Constituição que dizia que o máximo do juro autorizado seria o juro real de 12% [...] com esse congresso [...] a grande corrupção cria sua legalidade”.
Mais adiante o economista afirma que a corrupção financeira no país é possível porque (2)“nunca puseram no sistema de educação no Brasil o estudo da moeda [...] entender como funciona essa parte a gente não estuda”.
O debate segue com perguntas da plateia, e neste momento tive a oportunidade de perguntar sobre a histórica dívida externa brasileira: (3)- O Brasil pagou ou não pagou a dívida externa? É comum ouvirmos que o governo Lula pagou os jurus da dívida e não a dívida.
“Uma das primeiras medidas que o governo Lula tomou […] foi um imenso esforço de abertura de mercado. Na época do Fernando Henrique a gente tinha uma reserva da ordem de 30 bilhões de dólares, para um país do tamanho do Brasil isso é uma merreca que torna o país vulnerável a qualquer ataque dos grandes grupos financeiros internacionais. Hoje nós temos entre 380 bilhões de dólares de reserva. O Brasil, com essas reservas, não tem nenhum problema de dívida externa ele é credor. A parte de equilíbrio que se gerou permite que uma parte dessa dívida seja convertida e utilizada para redinamizar a economia interna do país”.
Desde quando o governo Lula anunciou o pagamento da divida externa brasileira é comum ouvirmos opiniões contrarias a esse pagamento. Com a explicação de Dowbor, que não usa o economês em suas falas, ficou mais claro a lógica financeira de credor em que o Brasil chegou após essa reserva de, por volta de 380 bilhões de dólares. Principalmente sobre a vulnerabilidade brasileira em relação aos ataque dos grandes grupos financeiros internacionais.
No que diz respeito as intermediações dos grandes bancos nas atividades financeiras, Florestan Fernandes pergunta a Ladislau Dowbor: (4)- professor, você não acha que existe uma possibilidade de a gente conseguir quebrar esse monopólio do sistema financeiro que foi criado no mundo hoje [...]?
“[...] no Brasil nos já temos 114 Bancos Comunitários de Desenvolvimento [...] em que as pessoas passam a emprestar umas pras outras sem pagar esses 100, 150, 200, 700% de juros [...] Essa alternativa é que ta agora começando a entrar [...] os próprios 114 Bancos Comunitários de Desenvolvimento que existe no Brasil já estão passando a emitir moeda eletrônica. A desintermediação é absolutamente vital [...] A gente pode gerar sistemas diretos”.
Em uma perspectiva de saída dessa crise temerária em que o Brasil vive, Dowbor defende reforma financeira e tributaria: (5)“Não vejo como o país evoluir sem mudar o sistema tributário. Temos que reformar e torná-lo progressivo [...] os ricos gostam de usar recursos públicos mas não gostam de pagar impostos – vi em uma manifestação uma faixa: ‘evasão fiscal não é roubo’. O cidadão gosta de evasão fiscal, mas também gosta de ter o filho na universidade pública”. Para o economista, a reforma financeira também é essencial, e precisa contemplar a transparência do sistema de transações que “drenam” a economia do país. Para ele, e acredito que para todo brasileiro que valoriza a democracia, o Brasil não tem perspectivas com governo Temer.
Ladislau Dowbor nasceu na França, em 1941, de pais poloneses que emigraram para o Brasil depois da Segunda Guerra Mundial. É formado em economia política pela Universidade de Lausanne (Suíça) e Doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia (Polônia). Atualmente é professor titular no departamento de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo nas áreas de economia e administração.
Resposta de Dowbor:
“O fenômeno é global [...] ele mudou as relações de forças na sociedade [...] O sistema financeiro se globalizou [...] Na realidade o governo termina fazendo a política dos grupos financeiros [...] a gente fez uma pesquisa e hoje essa captura do poder pelo sistema financeiro esta começando a se tronar clara [...].
Em se tratando das altas taxas de juros cobradas no Brasil, o sociólogo Jesse Souza pergunta ao economista: (1)- qual é a razão de cada cidadão esta sendo penalizado na sua capacidade de compra por mecanismos financeiros que não aparecem como uma corrupção. Por que isso não é julgado como uma corrupção? Simplesmente porque isso é legalizado?
Resposta de Dowbor:
“Uma pessoa pega um empréstimo, ela tem que pagar sua divida, ela não deve pagar juros de agiotagem [...] Por que é legal o que estão fazendo? Porque nos tínhamos o artigo 192 da Constituição que dizia que o máximo do juro autorizado seria o juro real de 12% [...] com esse congresso [...] a grande corrupção cria sua legalidade”.
Mais adiante o economista afirma que a corrupção financeira no país é possível porque (2)“nunca puseram no sistema de educação no Brasil o estudo da moeda [...] entender como funciona essa parte a gente não estuda”.
O debate segue com perguntas da plateia, e neste momento tive a oportunidade de perguntar sobre a histórica dívida externa brasileira: (3)- O Brasil pagou ou não pagou a dívida externa? É comum ouvirmos que o governo Lula pagou os jurus da dívida e não a dívida.
Resposta de Dowbor:
“Uma das primeiras medidas que o governo Lula tomou […] foi um imenso esforço de abertura de mercado. Na época do Fernando Henrique a gente tinha uma reserva da ordem de 30 bilhões de dólares, para um país do tamanho do Brasil isso é uma merreca que torna o país vulnerável a qualquer ataque dos grandes grupos financeiros internacionais. Hoje nós temos entre 380 bilhões de dólares de reserva. O Brasil, com essas reservas, não tem nenhum problema de dívida externa ele é credor. A parte de equilíbrio que se gerou permite que uma parte dessa dívida seja convertida e utilizada para redinamizar a economia interna do país”.
Desde quando o governo Lula anunciou o pagamento da divida externa brasileira é comum ouvirmos opiniões contrarias a esse pagamento. Com a explicação de Dowbor, que não usa o economês em suas falas, ficou mais claro a lógica financeira de credor em que o Brasil chegou após essa reserva de, por volta de 380 bilhões de dólares. Principalmente sobre a vulnerabilidade brasileira em relação aos ataque dos grandes grupos financeiros internacionais.
No que diz respeito as intermediações dos grandes bancos nas atividades financeiras, Florestan Fernandes pergunta a Ladislau Dowbor: (4)- professor, você não acha que existe uma possibilidade de a gente conseguir quebrar esse monopólio do sistema financeiro que foi criado no mundo hoje [...]?
Resposta de Dowbor:
“[...] no Brasil nos já temos 114 Bancos Comunitários de Desenvolvimento [...] em que as pessoas passam a emprestar umas pras outras sem pagar esses 100, 150, 200, 700% de juros [...] Essa alternativa é que ta agora começando a entrar [...] os próprios 114 Bancos Comunitários de Desenvolvimento que existe no Brasil já estão passando a emitir moeda eletrônica. A desintermediação é absolutamente vital [...] A gente pode gerar sistemas diretos”.
Em uma perspectiva de saída dessa crise temerária em que o Brasil vive, Dowbor defende reforma financeira e tributaria: (5)“Não vejo como o país evoluir sem mudar o sistema tributário. Temos que reformar e torná-lo progressivo [...] os ricos gostam de usar recursos públicos mas não gostam de pagar impostos – vi em uma manifestação uma faixa: ‘evasão fiscal não é roubo’. O cidadão gosta de evasão fiscal, mas também gosta de ter o filho na universidade pública”. Para o economista, a reforma financeira também é essencial, e precisa contemplar a transparência do sistema de transações que “drenam” a economia do país. Para ele, e acredito que para todo brasileiro que valoriza a democracia, o Brasil não tem perspectivas com governo Temer.
Ladislau Dowbor nasceu na França, em 1941, de pais poloneses que emigraram para o Brasil depois da Segunda Guerra Mundial. É formado em economia política pela Universidade de Lausanne (Suíça) e Doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia (Polônia). Atualmente é professor titular no departamento de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo nas áreas de economia e administração.
Estes debates estão sendo uma grande oportunidade para entender o que se passa neste período temeroso de nossa historia recente.A cobertura da serie “Encontros” será registrada no Nblog em
suas próximas postagens. O próximo tema a ser debatido será: "Ideias para
um novo desenvolvimentismo econômico", com o economista e ex-ministro
Bresser-Pereira.
(1) aos 22 minutos do vídeo
Assista na integra a entrevista com o economista Ladislau
Dowbor, professor de Economia da PUC de São Paulo.
(1) aos 22 minutos do vídeo
(2) em 1 hora e 5 minutos do vídeo
(3) em 1 hora e 13 minutos do vídeo
(4) aos 25 minutos do vídeo
(5) aos 25 minutos do vídeo
Apesar de redução da Selic, juros de
bancos para
crédito pessoal sobem
Algumas linhas de crédito oferecidas pelos bancos aos consumidores
estão ficando mais caras e não mais baratas, ao contrário da expectativa criada
pela redução da taxa básica de juros da economia pelo Banco Central, iniciada
em outubro de 2016.
Desde então, o BC reduziu a taxa Selic de 14,25% para 10,25% ao
ano. A expectativa dos economistas é que ela chegue ao fim do ano perto de
8,5%, de acordo com as projeções reunidas pelo Banco Central no boletim Focus.
No entanto, o custo médio do crédito pessoal cresceu 3,4 pontos
percentuais entre abril e maio, segundo dados do BC. Tomar um empréstimo agora
custa 132,6% ao ano para pessoas físicas, em média.
A taxa é mais cara do que a registrada em maio do ano passado,
quando a ex-presidente Dilma Rousseff foi afastada do cargo, a recessão
econômica ainda estava se aprofundando e as taxas de desemprego continuavam
subindo.
Também aumentou o juro para quem quiser renegociar suas dívidas.
Essa linha é oferecida a clientes que acumulam dívidas com cheque especial,
cartão de crédito e outros produtos, permitindo que eles quitem esses débitos
assumindo um novo empréstimo com prazo mais longo, às vezes com algum desconto.
(…)
Anexo 2.
DOWBOR, Ladislau: “A Formação do Capitalismo Dependente no Brasil”. Editora brasiliense, 1982.
O economista, Ladislau Dowbor, discorre sobre o modo de produção capitalista no Brasil, de forma que possamos entender como se deu a sua formação e sua dependência em relação ao capital estrangeiro.
O livro mostra como foi o desenvolvimento deste capitalismo dependente, primeiro, no capitulo 3, é analisada a fase de dependência em relação a Portugal, que durou até o inicio do seculo 19. No capitulo 4 é analisada a dependência relativamente à Inglaterra. E, por fim, no capitulo 5, o autor aborda a transição para a fase atual, caracterizada pela dominação dos Estados Unidos e das multinacionais.
As consequências da formação do capitalismo dependente no Brasil:
* Dowbor coloca que no Brasil " a agricultura produz para exportar antes de satisfazer as necessidades básicas da população[...]" e a "industria produz para o consumo de luxo antes de produzir o necessário" (Pagina 9)
*"O Brasil [...]: trata-se de uma economia criada praticamente em função do capitalismo em expansão [...] o Brasil no seu conjunto é criado como complemento econômico[...]" (Pagina 45)
*"A economia brasileira vê-se, pois, desde logo organizada para a produção em função de necessidades externas [...] O Brasil apresenta assim um pouco do caráter de "pura criação" da expansão do capitalismo europeu e, mais tarde, americano". (Pagina 47)
*"É essencial compreender que a independência do Brasil não resulta da luta travada pelas classes dirigentes brasileiras contra o sistema colonial, mas do afastamento de Portugal, economia demasiado fraca para gerir a sua colonia, em face da potencia crescente da Inglaterra em plena industrialização". (Paginas 64 - 65)
*"O declínio da presença inglesa no Brasil, pelos fins do seculo 19, resulta do enfraquecimento relativamente aos Estados Unidos [...] a proclamação da Republica foi também uma afirmação da liberdade no Brasil relativamente aos antigos laços com a Inglaterra". (Paginas 100-101)
Sobre o Autor:
Ladislau Dowbor é economista e professor titular de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi consultor de diversas agências das Nações Unidas, governos e municípios, além de várias organizações do sistema “S”. Autor e co-autor de cerca de 40 livros, toda sua produção intelectual está disponível online na página dowbor.org.
Nenhum comentário:
Postar um comentário